Por que há vinhos baratos e outros que custam fortunas?
Quais o fatores que influenciam os preços?
Por: Dirceu Vianna Jr
Ainda que o Château Lafite ainda mantenha o
recorde do maior preço pago por uma garrafa de vinho - US$ 156.450,00 por
uma garrafa de 1787 dita como pertencente a Thomas Jefferson -, a vasta
maioria dos enófilos fica contente em degustar vinhos que custam uma
pequena fração desse preço. A disparidade de valores entre um vinho
comum e um de alta gama produzido por vinícolas famosas é um dos
aspectos do comércio de vinhos que mais fascina os consumidores.
Dois produtores, separados por apenas alguns quilômetros de
distância, cultivam as uvas, colhem-nas, pisam-nas, deixam-nas
fermentar, pressionam-nas, e, dependendo do estilo do vinho, podem
deixá-los envelhecer em barricas de carvalho. Um ano depois, quando ele
estão nas prateleiras de uma loja, um pode valer R$ 20 enquanto outro
pode custar 100 vezes mais.
Há muitas razões para isso. Questões importantes incluem o terroir,
reputação, escassez, classificação, influência dos críticos de vinho,
poder da imagem ou marca, endosso por terceiros, custo da matéria-prima,
influência das taxas de câmbio, transporte, tributação, margem de lucro
e custo dos ativos tanto quanto o custo da atenção aos detalhes
necessários para fazer uma bela garrafa de vinho.
Os
fatores que influenciam no Preço dos vinhos vão desde os custos de
ativos
e matéria-prima até as avaliações da crítica especializada
Terroir
A primeira peça do quebra-cabeça para tentar entender essa
disparidade de preços é o terroir: a influência do lugar em que as uvas
são plantadas. Apesar de terroir ser uma palavra francesa, seu conceito
se estende por todo o mundo do vinho. Em nível mais básico, é
imediatamente evidente que algumas variedades de uvas cultivadas em
locais diferentes produzirão vinhos diferentes, mesmo que as uvas sejam
tratadas da mesma maneira pela vinícola. Estas diferenças devem-se à
variação dos fatores físicos, tais como microclimas e propriedades do
solo. Enquanto quase todos reconhecem a existência do "terroir", foram
os franceses que adoraram esse conceito com mais entusiasmo. Certamente,
vinhos de vinhedos de grande reputação - que têm fama de fazer grandes
vinhos onde as variedades das uvas e o meio ambiente são perfeitos -
atingem preços muito altos, que algumas vezes não correspondem à
qualidade do vinho.
Reputação
A reputação tem grande influência no mundo do
vinho. Nossos sentidos de paladar e olfato são facilmente enganados, ao
que parece. Tratamos com muita expectativa garrafas que são supostamente
grandiosas. Para os humanos, a informação visual é mais importante do
que a informação sensorial, então tendemos a acreditar mais na visão. O
falecido professor Peynaud, chefe do departamento de vinhos da
Universidade de Bordeaux, argumenta que "degustações às cegas de grandes
vinhos são sempre decepcionantes". Isso não quer dizer, contudo, que
grandes vinhos nunca merecem suas reputações. Muito dos grandes merecem,
ao menos em parte, a reverência que lhes é atribuída. Os vinhos top têm
uma reputação que vai além do que há dentro da garrafa. Um bom exemplo
seria o Sassicaia, criado em meados do século XX por Mario Incisa della
Rocchetta, um marquês do norte do Piemonte. Esse vinho extraordinário
foi criado abandonando as variedades tradicionais toscanas em favor de
um corte bordalês. O vinho rapidamente ganhou reputação por sua
qualidade e, consequentemente, os preços aumentaram. Nesses casos, o
consumidor está pagando mais do que simplesmente uma excepcional garrafa
de vinho.
Escassez Escassez
Também é uma importante peça do quebra-cabeça. "Grandes" vinhos são
sempre feitos em pequenas quantidades, mas há muitos enófilos ricos para
quem somente servem os melhores produtos e o resultado é um grande
número de pessoas perseguindo relativamente poucos vinhos. Para esses
vinhos ditos como sendo os melhores, há uma grande demanda e
relativamente pouca oferta, resultando num aumento de preços.
Consumidores abastados não costumam procurar por bons custo-benefício;
eles geralmente querem os melhores e estão preparados para pagar por
isso. Algumas vezes, a escassez está ligada a fatos históricos,
classificação ou uma combinação de ambos. O Château La Tour de Segur,
atualmente Château Latour, cultivou sua reputação por séculos. Um de
seus grandes admiradores foi Thomas Jefferson, o presidente
norte-americano de 1801 a 1809, que considerava o château um de seus
favoritos.
Peso da crítica
Se Thomas Jefferson, visto como um dos mais importantes críticos de
seu tempo, teve efeito no preço dos vinhos, os críticos contemporâneos
podem causar ainda mais impacto. O exemplo óbvio é Robert Parker, que
tem a capacidade de fazer o preço do vinho subir. Por exemplo, veja o
que sua resenha fez com o preço do Penfolds Grange 2004 nos últimos
meses.
Apesar do poder da crítica, certas marcas conseguiram criar uma
imagem que lhes possibilita ostentar preços mais elevados do que seus
concorrentes diretos. O Cloudy Bay vale o quando é cobrado ou é uma
questão de força da marca que foi criada ao longo dos anos? A mesma
questão pode ser colocada sobre algumas famosas casas de Champagne. Além
da imagem e da marca, há exemplos em que o endosso de terceiros e a
participação de um consultor têm impacto no preço da garrafa. Helen
Turley, Paul Hobbs e Michel Rolland são bons exemplos.
Matéria-prima
No outro extremo da indústria, vinhos do dia-a-dia (entry level),
destinados ao consumo imediato, podem variar de preço devido ao custo de
matéria-prima - como, aliás, todos os vinhos podem. No entanto, quando
as margens são pequenas, poucos detalhes - como tipo e cor do vidro,
tipo de fecho, estilo e cor do rótulo, assim como caixas em que o vinho é
embalado - têm impacto. Nos mercados competitivos como Holanda ou
Alemanha, estes fatores podem ser decisivos na obtenção de um negócio ou
não.
Taxas de câmbio
Outro fator decisivo no preço do vinho é a taxa de câmbio. O valor
da libra caiu de cerca de 1,5 para quase 1 euro atualmente. Esta é uma
das principais razões pela qual as vendas de vinhos francês no Reino
Unido sofreram tremendamente em 2009.
Transporte
Transporte também faz parte do custo. Em termos de vinhos finos, o
custo do transporte é pequeno em comparação com o valor do produto, e
não é uma questão importante. Entretanto, na parte de baixo desta
pirâmide, o custo do transporte pode causar um impacto grande, a ponto
de tornar o vinho mais ou menos competitivo dependendo de quanto ele
viajar. Por exemplo, transportar vinho de Portugal para a Inglaterra
pode ser duas vezes mais caro se comparado com os vindos do Vale do
Loire, na França.
Tributação, lucro e qualidade
Uma vez que o vinho chega no país de destino, há a questão dos
impostos. A tributação pode ser pouca ou inexistir, como no caso de Hong
Kong, mas também pode ser extremamente alta em outras partes do mundo,
como na Tailândia, onde os impostos podem chegar a 380%. Por exemplo,
para uma garrafa cara, o custo do transporte, seguro e impostos causa
pouco efeito no preço final. No entanto, para um vinho entry level, esse
custo costuma ser mais do que a metade do total de seu preço.
Além da tributação, há as margens de lucro a considerar e elas
tendem a variar ao redor do globo. Em mercados maduros, as empresas se
consideram sortudas se fizerem 25%, mas, em mercados em desenvolvimento,
como o Brasil, não são incomuns margens que alcancem três dígitos.
Na verdade, custa mais para fazer um bom vinho, ou seja, todo o
cuidado necessário com o vinhedo, a perda econômica de diminuir o
rendimento das vinhas ou plantar variedades de baixo rendimento, ou
clones, na busca da qualidade, e o custo de boas novas barricas de
carvalho contribui para aumentar os preços. Um produtor que se empenha
pela qualidade ao fazer colheita verde, perdendo, por exemplo, 20% da
sua produção, tem que compensar sua perda cobrando mais pelo produto
final. O mesmo é válido para um produtor de Tokaj, Sauternes ou
Trockenbeerenauslese alemão que têm que cobrar mais por um vinho afetado
pela Botrytis cinerea, o que tende a resultar em uma perda de
rendimento da ordem de 50% ou mais.
Custo dos ativos
Falando sobre diferentes regiões do mundo, há uma variação enorme de
custos de ativos. Por exemplo, um hectare de terra no Napa Valley pode
custar cerca de US$ 650 mil. Em compensação, um hectare em certas
regiões da Espanha podem custar tão pouco quanto 10 mil euros. Os custos
dos ativos invariavelmente terão impacto no valor final do produto,
portanto esta é uma das razões pelas quais o Cabernet de Napa varia
substancialmente de preço em comparação com ao Vin de Pays - tido agora
como "Indicação Geográfica Protegida", como a nova legislação determina.
Outro exemplo de como o alto preço de ativos influencia no custo pode
ser encontrado em Champagne, onde as casas tem que pagar mais de cinco
euros por quilo de uva.
Há uma variedade de fatores que influenciam o preço das garrafas que
ficam lado a lado nas prateleiras de uma loja. Atualmente, o fator que
mais influencia é a simples lei da oferta e procura. A economia global
continua frágil e os consumidores estão buscando cada vez vinhos que
reflitam o real valor do dinheiro. No topo, as vendas de super-premium
ainda estão flutuantes com investidores escavando pechinchas para com
propósito de investimento. No extremidade inferior do mercado, apesar de
sua natureza competitiva, as vendas estão fortes, pois a maioria dos
consumidores está apertando seus cintos e comprando vinhos mais baratos.
A parte do mercado que está realmente sofrendo no momento são os
produtores vendendo vinhos de qualidade média. Isso representa uma
oportunidade para os conhecedores que gostariam de apreciar uma garrafa
de vinho Premium sem necessariamente gastar uma pequena fortuna, pois há
sinais de que os preços estão caindo. Apesar de o sonho de chegar perto
de uma garrafa de Château Lafite 1787 possa ainda estar distante,
agora, mais do que nunca, é a hora para o verdadeiro enófilo ir à caça
de pechinchas.
Fonte: Revista Adega
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